RELATÓRIO
DE VIOLÊNCIA A JORNALISTAS E OUTROS PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO ANO
2000
Um
profissional de comunicação (radialista) foi assassinado impiedosamente
em 2000, em razão da sua atividade em uma emissora de rádio. O radialista
José Wellington Fernandes, de Sergipe, foi assassinado ao sair de uma
festa. A polícia identificou o responsável pelo crime: é o prefeito de
Canindé de São Francisco, Genivaldo Galindo da Silva. No dia 13 de março
de 2001, quando o assassinato completou um ano, a justiça decretou a prisão
preventiva de Galindo. Chama atenção neste caso o fato de tanto o autor
quanto o responsável pelo crime terem sido identificados, pois, infelizmente,
é comum a impunidade em delitos como este. Mas a justiça ainda não foi
feita totalmente, já que falta a punição completa aos criminosos.
Além da morte de Wellington, os jornalistas e demais trabalhadores em
comunicação no Brasil continuam enfrentando dificuldades para desempenhar
a profissão, seja através de ameaças de morte, seja com a consumação de
agressões físicas e cerceamento à atividade profissional. Os episódios
de violência estão sempre relacionados a denúncias feitas nos meios de
comunicação envolvendo fundamentalmente autoridades públicas.
Janeiro
Durante cobertura da passagem do fim de ano do Presidente da República,
Fernando Henrique Cardoso, no Rio de Janeiro (RJ), os repórteres fotográficos
Fernando Bizerra, do Jornal do Brasil, Edivaldo Ferreira e José Paulo
Lacerda, da Agência Estado, foram agredidos por soldados da Polícia do
Exército, ao registrarem a queda do toldo na área reservada na praia de
Copacabana onde o presidente assistia à queima de fogos de artifício,
e a discussão que se estabeleceu com o comandante do destacamento Os profissionais
tiveram os seus equipamentos apreendidos.
O Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul e seu presidente, Celso
Schröder, são processados pela empresa RBS Participações S/A e a Zero
Hora Editora Jornalística, por causa da reprodução no Versão dos Jornalistas
(jornal da entidade) texto do jornalista e cineasta Jorge Furtado, com
charge feita por Schroder, sobre a manipulação da informação pelo Grupo
RBS.
A sede do semanário Edição Extra, de Maceió (AL), foi invadida pelo deputado
estadual Cícero Ferro que, inconformado com reportagem sobre a quebra
de sigilo bancário pela CPI do narcotráfico, invadiu o jornal portando
uma arma na cintura e um chicote na mão. O deputado ameaçou o subeditor
do jornal, o jornalista João Marcos Carvalho, caso não fosse feita retratação
sobre a notícia divulgada.
O Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso denuncia que durante a rebelião
no presídio Pascoal Ramos, em Cuiabá, a Polícia Militar ameaça uma equipe
de reportagem da TV Cidade Verde, que registrava o episódio. O helicóptero
da PM fez rasantes sobre uma caixa d'água onde se encontravam os profissionais,
que quase perdem o equilíbrio e caem do local.
Fevereiro
O jornalista e radialista Sadi Nunes da Rosa, da Rádio União, município
de Toledo (PR), sofreu duas tentativas de agressão física por desconhecidos
depois de denunciar a falta de transparência na administração do Conselho
Municipal de Segurança da cidade.
Depois de noticiado o envolvimento de um juiz e um promotor da cidade
de Porto Calvo (AL) numa rede de prostituição infantil, diversos órgãos
de comunicação da cidade começaram a ser acionados judicialmente, numa
clara tentativa de intimidação por causa das denúncias.
O jornalista Almir Carvalho, editor do jornal A Palavra, da cidade de
Alegre (ES), é ameaçado de morte pelo prefeito da cidade, Gilvan Dutra,
por ter publicado o relatório do Tribunal de Contas do Estado reprovando
a prestação de contas de Prefeitura.
O jornalista Miguel Mourão, diretor-proprietário do tablóide semanal "Maskate",
de Manaus (AM), sofre violenta agressão em frente à sede do jornal. Ele
teve vários ferimentos na cabeça e escoriações pelo corpo. Mourão acredita
que a agressão tenha sido encomendada por pessoas envolvidas em escândalos
denunciados em seu periódico.
O Jornal Impacto foi proibido de publicar qualquer reportagem, ilustração,
charge ou mencionar o nome do prefeito de Araucária (PR), por decisão
do juiz da 1ª Vara Civil. O prefeito moveu uma ação contra o jornal por
não estar satisfeito com a cobertura do veículo sobre a sua administração.
O repórter-cinematográfico Pedro Gama de Souza é preso ilegalmente, sem
qualquer justificativa, pelo delegado Joviano Furtado em São Luís (MA),
sendo libertado apenas no dia seguinte. Foi aberto inquérito na corregedoria
de polícia.
O sargento Araújo e o soldado Luís Carlos, da Polícia Militar de Minas
Gerais, agrediram o repórter-fotográfico Juarez Rodrigues, após serem
fotografados em uma ação contra um menor que havia acabado de furtar seis
pacotes de leite fermentado em uma padaria de Belo Horizonte. Os policias
também tomaram e destruíram o filme da máquina fotográfica do jornalista.
Uma equipe do jornal O Povo, de Fortaleza (CE), chefiada pelo jornalista
Érick Guimarães e composta ainda pelo repórter fotográfico Marcos Studart
e pelo motorista Valdir Soares, foi ilegalmente detida em uma sala da
Prefeitura de Hidrolândia e agredida. A equipe estava apurando denúncias
de práticas delituosas cometidas pelo prefeito, Luis Antonio Farias.
Março
O jornalista Luciano Araújo Jatobá da Silva, editor o Jornal A Cara da
Bahia, do município de Senhor do Bonfim, também funcionário do Juizado
Especial Criminal, começou a receber ameaças de morte desde que publicou
matéria relatando as compras irregulares realizadas pelo pela Secretaria
da Saúde da Prefeitura local.
No município de Gandu (BA), o radialista Luiz Fernando Almeida Vieira,
diretor geral da Rádio União de Gandu, sofreu atentado em sua residência,
que acabou provocando o incêndio de um carro. O radialista passou a ser
alvo de perseguição política por parte do prefeito municipal Antônio Carlos
Farias Nunes, por denunciar em seu programa irregularidades administrativas.
O jornalista Ricardo Noblat, diretor de redação do Correio Braziliense
(Brasília, DF), pediu garantia de vida à Polícia Federal. A solicitação
teve como motivo agressões sofridas por dois de seus filhos, que teriam
acontecido como represálias por críticas feitas pelo jornal ao governador
Joaquim Roriz e ao então senador Luiz Estevão.
O jornalista Klester Cavalcanti, chefe da sucursal da revista Veja em
Belém (PR) foi vítima de seqüestro-relâmpago, ameaça de morte e agressão
por desconhecidos. Foi espancado e abandonado amarrado a uma árvore durante
a apuração de uma denúncia relacionada com a posse ilegal de terras na
região amazônica.
O radialista José Wellington Fernandes, o Zezinho Cazuza, foi executado
com um tiro de escopeta, à queima roupa, ao sair de uma festa no município
de Canindé do São Francisco (SE). Ele havia feito várias denúncias de
corrupção contra o prefeito da cidade, Genivaldo Galindo da Silva, que
o ameaçou publicamente de morte. A polícia prendeu um funcionário de Galindo,
que confessou ter recebido R$ 3 mil do prefeito para executar o crime.
No dia 13 de março de 2001, quando o assassinato completou um ano, a justiça
decretou a prisão preventiva de Galindo, mas ele pediu licença da prefeitura
e fugiu, não sendo localizado.
Ainda no município de Canindé do São Francisco, o jornalista Luiz Eduardo
Costa passa a sofrer ameaças de morte, que partiram de pessoas não identificadas.
O jornalista Pedro Newton, diretor e editor-geral do periódico Jornal
de Currais Novos, município de Currais Novos (RN), depois de uma série
de denúncias contra o prefeito da cidade, Geraldo Gomes, passou a ser
ameaçado. O prefeito acionou polícia contra o jornalista e o seu jornal
foi temporariamente fechado por determinação do juiz Valdir Flávio Lobo
Maia.
Depois de uma série de matérias investigativas sobre a CPI do narcotráfico
no Paraná, uma onda de ameaças atingiu alguns veículos de comunicação
do estado. O editor de política do jornal Diário dos Campos, de Ponta
Grossa, Eloir Rodrigues, recebeu ameaças por fazer reportagens apontando
o envolvimento de policiais com o tráfico de drogas.
Irritado com as perguntas que lhe são feitas, o governador do Amazonas,
Amazonino Armando Mendes, ofende com palavrões, durante entrevista coletiva,
o repórter do jornal A Crítica, Gerson Severo.
Abril
A jornalista Débora Borges sofreu violência física ao questionar numa
entrevista o governador do Estado de Tocantins, Siqueira Campos. Ela foi
segura pelo braço e alertada pelo governador para não insistir na pergunta
que fazia durante entrevista na cidade de Palmas, capital do estado.
Maio
A jornalista Cláudia Bastos, da TV Tapajós, município de Santarém (PR)
começa a sofrer ameaças de morte e já teve a sua casa arrombada e revirada.
Ela prestou queixa à polícia e ficou sob proteção de soldados da Polícia
Militar. As ameaças e a invasão aconteceram depois que a jornalista se
dispôs a levar uma testemunha conhecida por "Senhor X" para depor na CPI
do Narcotráfico, durante as investigações da comissão em São Paulo.
A editora da TV Cidade Verde, de Cuiabá (MT), Regina Deliberai, é afastada
do cargo pela direção da emissora, que queria que fosse retirado de uma
matéria o nome de um dos envolvidos na CPI do Narcotráfico revelado em
depoimento na Assembléia Legislativa. A matéria foi ao ar sem cortes e
em seguida a editora foi afastada.
Junho
A jornalista Carina Paccola, presidente do Sindicato dos Jornalistas de
Londrina (PR) e repórter do jornal Folha de Londrina, sofreu tentativa
de demissão depois que saiu em defesa de outros sete profissionais que
haviam sido dispensados pelo jornal. Ela foi proibida de entrar na Folha
de Londrina.
Agosto
O prefeito de Três Lagoas (MS), Issam Fares, faz ameaças aos jornalistas
de todos os veículos de comunicação da cidade, tentando com isso impedir
críticas à sua administração em meio à campanha eleitoral para reeleger-se
prefeito.
Dezembro
O jornalista Sebastião Maia Pereira, o Tião Maia, repórter do jornal O
Estado, de Rio Branco (AC), é ameaçado pelo delegado da Polícia Federal
Glorivan Bernardes de Oliveira. O motivo é a denúncia feita pelo jornalista
e outros profissionais sobre a existência de um plano para assassinar
o governador do Estado, Jorge Vianna, negado pela PF e principalmente
por Oliveira, ex-superintendente do órgão. Tião Maia revelou alguns episódios
envolvendo o delegado com grupos políticos locais adversários do governador.
Oliveira fez ameaças de espancamento e de morte contra o jornalista dentro
de um shopping center.
O jornalista Mauro Konig, repórter do jornal A Tribuna, de Foz do Iguaçu
(PR), é agredido violentamente em território do Paraguai, precisamente
na colônia de San Alberto, a 80 quilômetros da fronteira com o Brasil.
Três homens da polícia paraguaia agridem e torturam o jornalista, que
estava concluindo uma reportagem sobre brasileiros que falsificam documentos
para se alistar no Exército paraguaio.
O governador Itamar Franco, de Minas Gerais, agride verbalmente o repórter
Carlos Barroso, do jornal Estado de Minas, e ainda chama todos os profissionais
de imprensa de ``abutres´´, incomodado com as perguntas que lhe são dirigidas.
Dias depois, o governador partiu de punhos cerrados para cima do repórter
Eduardo Costa, da rádio Itatiaia. Os dois episódios aconteceram em Belo
Horizonte.
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