XXIX
Congresso Nacional
dos Jornalistas
Carta
de Salvador
Ao
povo e às autoridades
Os jornalistas brasileiros reunidos em
seu XXIX Congresso Nacional, na cidade de Salvador, Bahia, no período
de 6 a 10 de setembro de 2000, analisaram a situação da categoria, diante
de uma política econômica que mergulhou o país em brutal recessão, que
desarticulou e desnacionalizou o sistema produtivo e vem provocando desestruturação
social sem precedentes, da qual são testemunhos
o desemprego, a degradação das políticas sociais, o aumento do
número dos excluídos e da violência em todas as cidades brasileiras. A
intransigência na defesa do modelo neoliberal, a consciência que tem da
instabilidade da economia mundial e a disposição que possui de impor ao
povo maiores sacrifícios para cumprir acordos com banqueiros e o capital
internacional, são provas de que o atual governo não está disposto a nenhuma
mudança de rumo, prosseguindo com sua orientação conservadora que aprofundará
ainda mais o ajuste e as reformas
neoliberais, com destaque para a nefasta política de privatização,
caracterizando-se como um governo
autoritário. O
quadro latino-americano é complexo. Os indicadores econômicos e sociais
de todos os organismos internacionais demonstram que a situação do continente
piorou nesses dez anos de experimento neoliberal. Além da conflagração
social latente, em quase todos os países
latino-americanos, aprofunda-se o conflito armado na Colômbia.
Nesse contexto, é necessário enfatizar a defesa das liberdades democráticas,
de manifestação e de expressão, bem como denunciar a intervenção dos EUA
naquele país, por meio do chamado Plano Colômbia, que vem mascarada de
combate ao narcotráfico. Os
jornalistas reafirmam ainda o seu propósito de manter a pressão do movimento
popular nas ruas, articulando as atuais reivindicações sociais em um vasto
movimento de oposição às políticas conservadoras do governo. Os resultados
das eleições municipais de outubro terão um importante efeito, e a unidade
dos partidos progressistas será fundamental na medida que eles se expressem
em oposição ao governo de Fernando Henrique Cardoso, apoiando os movimentos
populares contra o arrocho salarial e o desemprego, denunciando e resistindo
ao violento processo de desregulamentação de direitos e conquistas das
relações trabalhistas. Desde
o desmantelamento do movimento sindical, durante o período da ditadura,
os trabalhadores vêm realizando debates sobre
uma nova concepção de sindicalismo autônomo e independente do Estado.
Entre as propostas mais inovadoras, sempre esteve a construção de uma
nova estrutura sindical que atendesse aos interesses dos trabalhadores.
Nesse sentido, os jornalistas apontam para a criação de uma coordenação
pró-ramo de produção, incluindo telecomunicações e informática, que abra
o debate para a construção
da unidade dos trabalhadores em comunicação. Nesse
quadro, reafirmamos o nosso compromisso com a formação profissional do
jornalista, cujo ofício é cada vez mais importante para a consolidação
de um jornalismo democrático, qualificado, responsável, ético e cidadão.
Um jornalismo que realmente atenda
as demandas da sociedade em relação ao bem público que é a informação.
Os
jornalistas brasileiros repudiam a postura repressiva do governo federal
e de seus seguidores estaduais com relação aos movimentos sociais organizados
que se levantam contra a grave crise social em que nos encontramos. Repudiamos
a reedição de mecanismos de censura e controle da informação, aos moldes
do antigo Serviço Nacional de Informação (SNI), retrocesso que nos remete
à época da ditadura militar. Exigimos, ainda, a imediata implantação do
Conselho Nacional de Comunicação Social, previsto na Constituição e engavetado
há dez anos no Senado. Dessa forma, estaremos iniciando o processo de
democratização dos meios de comunicação no país. Salvador, Bahia, 10 de setembro de 2000 |